10/11/2023

Tetragramatron

 Fogo cruzado por todos os lados. Numa guerra onde a munição é a soma das palavras escritas nesse pincel que precede o amor guardado que nos antecede:


Risquei pois precisei


Pois fogo rompe barreiras. Queima entre dimensões.



Num vídeo mal filmado, numa palavra solta, no eu-lirico de Resposta ao Tempo, na voz afinada dela, mesmo ela não querendo.  

E as palavras saem. Foram feitas para isso, para sangrar, para declarar, para sentir tu sentindo lá do outro lado da nossa distancia. Nada é  a toa. Tudo é regido. E em dizer o que sinto, o que preciso, sou nada mais que isso. Acólito da minha cabeça de falso semideus da baixada maranhense.  E eu me entrego. Não posso fazer nada. Já basta de prender o que sou. 

E ela bem aqui na minha frente. É aquela amálgama do que sou misturado ao meu contrario. E vi vários futuros em seus olhos. Mesmo no meio da guerra que deixou tudo destruído em mim. Só quero paz. Com ela vi paz em criar, vi paz em amar e construir, vi paz no ca0s, vi algo em mim nunca antes visto. 

Espectador de mim mesmo e da beleza das coisas, me pego agente retumbante por querer estar rendido por aquela Deusa real. Sim, ela é da uma princesa da realeza, da mais alta casta da nobreza. Por isso essa guerra toda, esse bombardeio que reluta em me aceitar. Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro ou segredos no banco, meus parentes importantes não me reconhecem como um deles, mas tenho coração, tenho peito e sou carudo pra tomar de assalto o amor todo dela, mesmo que ela diga não. Veja bem, a estratégia aqui é  ser de verdade. Ter a coragem de mudar por si, pra ver o outro feliz é  o verdadeiro sentido de crescer. E pra gerar, precisa ser completo. Os dois precisam.

Ela me tomou todo o chão.  

E me deu o céu no lugar.

Voar, vento, é paixão sem se preocupar.

A estratégia é  essa.

É  ser para contigo estar.

Sete anos que não couberam em três dias de entrega nossa.

Serei o ar que nos envolverá,  e tu, minha princesa, será Rainha do meu futuro com coroa de pedras únicas, assim como o teu olhar.


8/27/2023

Fotosincrese

 A Luz.


As estrelas ainda regem o cerne do nosso descaso infantil, que perdura até o sempre desde a última vez que a vi na caverna estreita e sinuosa da minha famigerada casa. Ela é perfeita. É aquário e sou todos os peixes nela mesmo sendo gêmeos. 


A Luz.


Ela ressoa ainda dentro das minhas vontades de não estar apaixonado, mesmo estando inebriadamente cauteloso por não querer perder de vez o feixe estonteante do nosso convívio.


Andaluz. 


Sou cão na constelação de Buñel semi-enforcado debaixo da torre Eiffel, surrealisticamente tentando não parecer fraco por já ter sido envenenado pelo retorno da tua presença, que invade os oito buracos da minha cabeça.


A

L

U

Z

.

.

.


Nem toda poesia já escrita consegue explicar o que me assola quando recebo de ti um pingo de desejo desdenhado, uma simples curva desenhada na imensidão da reta que poderíamos ter seguido. E teu corpo é esguio. É lacerante, latente querer sem precisar nem estar.


Foi meio que de relance e imensurável das últimas vezes que senti tua aura no mesmo lugar que eu estivera. Cada toque me transformava numa quimera sem sufixo, sem base alguma do que fazer.


Não sei que espécie de ser fantasioso me tornara, mas sei qual divindade és, qual mitologia roubaste para ti. 


Sei que mistura seríamos: o toque do concreto volátil com o etéreo tátil, do impossível com o insubstituível prazer domado. Amizade carnal e entendimento visceral, raro privilégio humano, semiologicamente imperceptível, longe de qualquer cura ou doença já catalogada. Seríamos uma espécie de língua extinta, um extintor apaziguando uma chama fria. E tu me chamarias novamente para o eterno despertar.


Se não for assim, por onde andarei?




Lua.


Estrada crua, 


Pararás no céu, impetuosa vontade nua? 


Não vou parar. Vou deixar claro que sou eu quem vai te fazer superar todos esses anos de erros e tragédias pífias. Relacionamentos sangrentos, mortes prematuras, sangrias sem firmamento.


Não há paz sem ti.


Não há o mais,

Sem dividir,

Sem multiplicar,

Para nos subtrair. 


Luz.


Seremos luz sem corrente elétrica. 

Serpente hermética em tesa kundalini, círculo plasmático no nosso futuro inexistente leito, circuito somático de orgasmos secretos, seremos blindados, à prova de fardos. 

Eu serei o alvo e tu os dardos, pronta para me furar. 

E preciso que me fure, que me faça fraco, que me arranque o sacro para ritualizar.

Pois aqui estou. 

Eu, falha pra quem de longe me vê. 

Eu, erro pra quem perto me quis. 

Eu, amigo, até tu desistir. 

Até que me recolhas em ti. 


Nessa prosa que nada rega…


Nesse tesão que não enxergas…


Nessa certeza que me negas…


Mas


            

         L                     

                                           U

                                                                         Z…



A Luz não pesa. A ciência erra em definir. A Luz atravessa, rasga, dilacera, sangra, tinge, macula, machuca, cura, decepa, escalpela, pra depois cicatrizar. És Luz em mim, pra mim, e por ti, não canso de tentar. Por mim, não morro sem teu fôlego tirar.

8/19/2023

Esvai e Cimento


o que percorre o rosto,

acaba na boca,

o que exala o gosto, é fruto do ventre.


entre meus dedos,

por todos os dias,

entre em minha casa,

Que anda vazia.


lá havia felicidade,

incrustada na parede,

hoje é destroço,

A tal pirâmide do Tao,

liberdade em vão,

paz sem perdão,

querer sem poder,

amar sem saber,

por que aqui não estás?


Pelo o que és fugaz? 

Eterno desentendimento

Escaravelho, que monólogo é esse?

Quanta areia cobriu teu tempo?


Poeta, onde irás?

Soterrado em desespero

Angústia,

Destruição,

Tanto faz!

Égide da égloga do último Baudelaire cirrótico 

Filhote de pessoa sem um pingo de gente


Poeta, 

É certo

És tu, teu satanás.

Nefasto adendo do apêndice sepulcral

Que mesmo incompetente, 

És parte de todo ser senil 

De todo mamífero que não te capou.



Poeta

Renúncia o que tu ama

Esquece tua rebeldia

Essa tal revelia que te camufla

Licença poética é meu pau!

Erros crassos, 

Todos fracos,

Tolos com rasos sonhar gramatical!


E O CIMENTO TE COMPLETA

CINZA

VIVO SÓ ATÉ SECAR


E O CIMENTO É METÁFORA

ÍNGUA

MORTA POR ASSIM ESTAR


Mas me diz aí, ovacionado

Mestre letrado

Quem te ensinou a escrever?

Quem que tu amas e que nunca irá saber?

Qual teu ímpeto além de nas palavras te esconder?

A Grécia antiga que adiante te expurgue! 


Porque de tu mesmo

Eu

Famigerado celerado facínora 

Sicario eterno exilado

Eu 

E meu simulacro emprestado do ex-cunhado

Ao menos uma soberba tese 

Em meio a sentença-catequese

Se possível,

Pedra sobre Faedra,

Em mármore solto incólume,

Rima maldição em linha reta,

Escatitado por demais amar.


Enfim, 

Poeta,  

Irei te humilhar.


6/13/2023

Batalha naval no deserto do Auto-amar

lá no fundo de mim
lá onde o juízo entorta
há batalha secreta 
há guerra silenciosa

lá, 
governa o rei etéreo 
dono das palavras mortas 
inimigo da sorte 
cruel, depredador,
assola ao seu próprio reino 
negativa eterna da vida 
criador do pus em toda ferida
se esbalda e depreda minha carne viva 
destilando pura cicuta 
investida interna sem saída

há anos,
desde que me conheço por indigente 
desde quando tinha riso nos dentes 
carrego o peso do naufrágio iminente
sufrágio meu sem saber de onde 
nem como ser diferente
baldrame dos muros do caráter
em pleno deserto intrínseco 
no qual se finda intangível castelo
da majestade abissal

tenho ele como um demônio de estimação
que se alimenta da falta do autocuidado 
e mata sua sede no vício incansável

mas é só em mim que ele permeia
é só aqui, que jaz a sua ceia
é só aqui em mim, por quem não tenho pena.

e agora
lá também há
uma novidade 
novo paradoxo
enraizando no saibro
estendido e crescendo pros lados
pra fazer plectro contrário
inspirando
aspirando em mim esteios
virando rocha opositora 
ao imperador do não-me-amar

eu sei, são apenas devaneios
essa peleja,
esse confronto aqui dentro
se resolverá
pois o amor é maior
o amor ganha
mesmo sem saber
o amor passa por cima de qualquer fortaleza
o amor faz barco submerso velejar
faz trovejar sem sinal de nuvem
me faz bravejar:
cresça em mim,
meu auto-amar, 
VEM!

4/22/2023

Arco do Defunto

a inspiração nasce de qualquer falha ou brecha

surge e urge feito flecha


e o poeta

é arma
é arco
se curva em triunfo
é frágil ferramenta
que completa ou em si, erra.

e no poema,

a inquietação é drástica fagulha que foge e morre secreta,

é dilema que maceta, 
problema 
faceta
persona non grata
espasmos 
furacão
esquizo-comunhão
filho do cramunhão
abiogênese da sarjeta 
arte em queda livre
labuta em declive
morte diária
a mais frágil e rasa planária
na qual a poesia se cria.
 



4/18/2023

Equidna e Argos

 As estrelas são sinais luminosos do passado para o futuro, que tentam nos explicar as coisas sem dizer nada. Agem sem agir, gravitacionalmente nos colocando onde devemos estar. E lá estava eu, dobrando o canto da galáxia para encontrar uma das pessoas mais interessantes e intrigantes que conheci nas últimas décadas.

Por mais incongruente que me pareça, quando nos conhecemos, talvez tenha sido o mais estranho até então. Passamos por volta de 15 horas conversando, sem parar, sobre todo e qualquer assunto que nos viesse à cabeça. Fiquei impressionado porque há meses tentava conversar com quem quer que fosse, mas conversar mesmo, com profundidade e percebendo que a outra pessoa também estava ali, mesmo estando atrás de uma tela qualquer. Se eu for contar, até agora, acho que conversei mais com ela do que a soma da conversa de todos os namoros que já tive. Assumo, claro, que a culpa desse desleixo com as ex foram 90% de mim. Não preciso mais mentir.


E é nesse contexto que a encontrei. Seu nome era Equidna Dranea. E é nesse movimento que busquei ela na porta de casa, sem qualquer presunção, só querendo conversar com alguém que me entende e que admiro por vários fatores. Quando abro a porta do carro pra ela, vejo uma mudança repentina e que eu nunca imaginara em seus cabelos, quase me declaro sem nem estar apaixonado. Sou refém eterno da beleza feminina. Arauto-escravo exaltado dela. Enquanto dirigia rumo onde iriamos trocar ideias mil e beber para soltar o que tivesse que, em meio a bicos de piadas mal feitas e interpretações com inúmeros fios soltos, o riso de ambos ia aparecendo. Não consegui parar de olhar para os olhos dela em momento algum que ela falava, sentia mesmo que ela estava ali, por mais surpreendente que pudesse me parecer, mas agora entendo que todo o alinhamento surgiu pelas palavras trocadas. Pelos sinais no corpo dela. Pelos dias de conversa sincera que quase ninguém tem. 


Dentro dos meus devaneios, nunca tive qualquer intenção até então de ser tão intenso no que tange vontades carnais. Sempre fui muito mais interessado nas palavras, nos toques sem tocar, no aprender das esotéricas e iniciáticas ideias em pleno século tecnológico, - justamente isso que me atraia mais e mais na medida em que íamos nos conhecendo - a presença dela entrava pelos oito buracos da minha cabeça, principalmente pelo terceiro olho. Sensor que tudo sente, órgão espiritual que mais recebia essa emanação da sua aura, miasma do campo magnético fluindo liquefeito direcionado a formar uma metafísica só nossa, sem pretensão alguma, existindo porque havia de existir. 


Percebi que mulheres do signo de aquário têm esse poder sobre mim, mesmo que infimamente. É como se fosse uma benção maldita, quase todas são magicamente lindas, e se interessam por mim, criam algum tipo de afinidade sem nem eu me esforçar. Antes desse fato que narro, tive um” caso” com uma raposa de nove caudas, linda e deliciosamente entregue por uma noite, e eu também me entreguei. Em meio a ciúmes infundados e caos inebriante, dentro de conversas  sobre futuros impossíveis  juntos e sofrimentos passados, fui me percebendo mais carente do que eu queria ser. Serviu-me de experiência instrumentalizada, foi útil porém efêmero como amor de madrugada, como se eu fosse o protagonista de um filme de Scorsese. E escorreu pelos meus dedos do mesmo jeito que derramou na minha mão. Sumiu num acesso de justiça sem qualquer eira nem beira. Mas era melhor assim, sempre é melhor do jeito que é. 


Depois disso, me vi isolado em mim, tentando administrar as energias que circulavam na minha casa, tentando me compreender como gente. Afinal, eu, no auge dos meus 37 anos, nunca tinha ficado solteiro por mais de 8 meses desde a primeira vez que namorei, aos 18. Não me conhecia, ouso dizer que nem um pedaço do que me entendo hoje. E meu coração sabia disso, mas não conseguia passar por cima de toda a carência que cultivei. Por isso, me impus o dever de não me envolver de alguma forma apaixonada com ninguém. É difícil, muito. Sou talvez a pessoa que mais depende emocionalmente dos outros que conheço. Falo isso com gosto e com bastante temperança, assumir-se é parte importantíssima no autoconhecimento. E me peguei nesse status quo em pleno desenvolvimento próprio, indo de encontro ao meu espírito há muito dormente. Veja bem, nossa realidade ocidental nunca se preocupou em ensinar o principal salto necessário para nos tornarmos seres humanos de fato, a percepção do “EU-SOU”, a limitroficidade do que nos forma e onde o outro começa. E ela, Dranea, me ajudou a sentir isso da forma mais natural possível: conversando de corpo e alma, sem barreiras ou asneiras predefinidas pelo ruído brancovomitado pela sociedade.


Passamos horas sentados num barzinho, nos conhecendo pouco a pouco, pois até então só havíamos nos visto umas 2 vezes, meio que de relance em rolês aleatórios. E caía uma chuva tão interminável que nos prendia em nós e fazia o sertanojo universitário do bar ser obliterado pelo barulho da água intermitente. Certeza era São Pedro junto com Iansã consagrando nosso primeiro encontro. E ela reluzia como um raio dentro dos meus olhos. A forma de explicar, o modo cautelosamente caótico e cirúrgico de se mover, de me olhar no fundo, sem precisar que eu me repetisse, me deixou confortavelmente presente em mim. Ela é tudo isso, não to falando nada a mais do que vi, apesar de ser um poeta menor.


Depois da chuva, a noite ainda parecia curta para tanta conversa. Resolvemos ir pra um posto, daqueles que os fritos e os bomba-trance se desfalecem até umazora. E mais papo, mais entregas, mais intimidades expostas, mais vontades de ficar mais juntos, mais decotes e mais olhares instigantes, à medida que o álcool nos tomava, pouco a pouco. E ainda sinto as palavras entrando pelos meus ouvidos, letra por letra, se formando concisas como tijolos que compõem um baldrame para se levantar uma parede - que não faz sombra em momento algum do dia - de um edifício chamado Persona. Senti muita vontade de me lançar e tentar um beijo, só pra ver o que acontecia, mas percebi que não era isso que de fato queria. Eu precisava mesmo era de me tornar vivo com ela, com a magia dos símbolos fonéticos, feitiços silábicos que levam qualquer sensibilista pra onde quer que se direcione. 


Após muito insistir, consegui levar ela para minha caverna. Eu, sem intenção alguma de tentar algo que Dreana não quisesse, me fiz claro e sincero nos pedidos. Ela, dizendo que não queria chegar pela manhã em casa, finalmente viu que não era mais um “homo sapiens nihil modernivns” que propusera a cavernagem, viu que não sou daqueles que só pensam em transar a todo custo. Não sou isso e nunca fui, nunca vou ser. Ainda mais com alguém que me instigou de uma forma inédita. 


Até hoje ela paira aqui em casa. A presença dela marcou todos os cantos da caverna, iluminou as sombras, arestas, limpou as hachuras como se fossem detalhes ínfimos, como se toda esquina escura das ruas no universo espalhado na minha cabeça não passassem de pequenos detalhes frugais sem qualquer complicação imediata ou futura, sem sentido algum. Todo movimento dela me chamava atenção, me sugava os neurônios já dopados, me exigiam tudo de mim. Ela é linda, e na minha casa então… Várias vezes pensei em ser um idota completo, de novo e de novo e de novo nessa vontade de me arriscar entre a amizade e o carnal: “-Mas por quê que a amizade não pode ter essa carne?” Pensava durante o que explanamos. “-Será que alguém já fez e deixou essa deusa realmente feliz? Levou café na cama e beijou o corpo inteiro dela, da ponta do dedão do pé até o fim do fio de cabelo mais comprido? Será que ela sabe o que eu posso fazer pela felicidade dela, pelo o que ela fez pra mim, pelo simples fato de ela ter sido quem é, sem mentir e sem esconder o que todo mundo esconderia? Será que eu, um reles ctônico decaído, consigo fazer a diva-mãe sentir todas as sensações que ela merece?

Não tenho essa certeza, mas se a musa do provável me tecer em meio as suas pernas, vou ser melhor do que já fui. Sou carinho inteiro e afeto eterno por onde toco, e por ela me faria completo desde o primeiro toque, pra logo depois ir embora, pra deixar tudo perfeito sem precisar de reparos”. Pensei nisso tudo, enquanto a entendia e recebia e logo deixei de lado.


E logo a deixei em casa, querendo não.

 


A mãe dos monstros, feiticeira-pesquisadora dos arquétipos interpessoais. E eu, um Argos que nada via, mesmo com meus 26 olhos, fui morto antes mesmo de tentar ser e deixar-la ser, enebriado e torpe pela magia de aquário.


12/01/2022

Proesia Filocrônica

 


É inevitável. 



Tudo é como tem que ser. A fuga em si é ação. Sofrer, em mim é repetição. Fardo esse que exala incoerência, parábola esquemática da existência. O caquético querer é, aqui, produto explorado sem conseguir com ele nada tecer. Repetição em loop sem fim.


Pensei nisso em um microssegundo do meu cosmos. E tudo é um ponto. Tudo tem seu final. E nele estávamos, tentando suprir o tal do desejo em função do prazer, indo em direção à orgasmagórica luz efêmera. E tudo efêmero é sorrateiro, passageiro em ônibus sem condutor. E a língua passando por tudo o que é mais sagrado, pelo teu estigma sagrado, sangrando em meu rosto sem pudor algum, e sou aquele momento exato do entregue, suou naquele instante o clítoris que me rege, orbitando-me em plena rotação atemporal.


Pensei isso enquanto me entregava por completo à ela. Passando por cima de todas as iniquidades, dos paradigmas, do peso da sinceridade. E ela pesa. Se soma à gravidade em movimento repetitivo da meteção. O que há de se molhar, há nele o querer. E querer é meter. E como aquilo faz de mim refém, não sei como explicar. É cheiro, é toque, é gosto, é paisagem dentro de um quarto, é o som do gemido tu estando de quatro

.


O toque brando e vermelho da sua pele era mais que o necessário para me convencer de que eu sempre estive errado em qualquer resolução contrária a não estar mais naquele lugar, naquela posição submissa de deixar claro a necessidade no outro, e é inevitável. Toda frase tem um ponto. Toda fase é um desafio, e o chefão sempre é a minha cabeça segmentada em fatias milimetricamente espiraladas. Eu, alquimista de minha matéria fétida. Eu, especialista em vórtices sazonais. Querendo ser escapista das armadilhas vaginais. E tudo envolve gozar dentro, e a gravidade ajuda na macetada, e teu corpo é poesia encharcada, e és porta do éden escancarada, e o que de ti sai é unção em mim ritualizada. Completa então ritual nosso, complexo emaranhado em destroços do que fomos. 


Mas nada disso agora importa. Meu pau latente quase por completo na boca bate lá na garganta. E de repente, tua vontade é de lá ele tirar, mas me puxas mais pra perto,

pra sentir mais fundo ainda o meu cacete plenamente ereto. E eu sou aquilo tudo que disse acima, e sou deus ou aquilo tudo contigo por cima. Inesquecível cena de te ver cuspindo todo o líquido de teu esôfago em meu agora ainda mais duro caralho. Todas as veias pulsando em movimentos ciclicamente irrefreáveis. É incontestável. Imensurável sincronia sexual, conversa carnal metalinguística, pra logo depois eu meter a língua em todo teu ser. Tudo entre nossas paredes é o teu ser. E gemes. Lambuzo poro por poro, sentindo pelo por pelo, sem chegar a tocar. Não preciso tocar. Só preciso dos teus espasmos pra saber onde te beijar bem devagar. E és então outra repetição, rainha da melodia de imenso prazer. 


Te vejo gozando em mim mais uma vez. Tu me chamas pelo nome tenramente, e minha mente me engana em mais outro talvez. Será que consigo te esperar? Vou superar essa fase sem toda a dor que carrego no cerne? Mas surge a tremedeira que arrebata todos meus sentidos, pedindo por mais orgasmo teu. Continuo passando então a língua de forma bem macia, sem força, só toque bem devagarinho. É nessa hora que tu empurra minha cabeça pra dentro de ti, como se eu fosse entrar inteiro no meio.


É inevitável.  

Teu gosto ainda tá na minha alma. O cheiro impregnou em todas as minhas pupilas espalhadas no meu corpo como medida de proteção pra justamente não passar pelo o que passo agora.

Lembro de todas as vezes que te fiz gozar. Lembro de todos os apertos que deste no meu pau, prendendo pra não deixar sair. É foda. É dor não mais acordar todo dia respirando teus seios. Perfeitos seios que me entretém por horas, que brinco com o bico de todas as formas, sugando com as narinas, chupando forte, lambendo macio, no mesmo quase toco que faço na sua buceta. Poderia passar anos só chupando e beijando teu corpo sem reclamar. E de certo que tu gostaria. Mas não aguentaria e pediria meu pau mais uma vez dentro de ti. É foda. E quão foda é a nossa foda. 


Mas não é mais assim. Todo dia agonia.Todo dia agonizo. Preciso fugir. Preciso me redimir e expressar o quão forte é o que tenho por ti, mesmo sendo quem não sou, mesmo pensando no que serás. E seremos de novo o que fomos, por cima da nossa casa entulhada de rancor. 


É inevitável. 

É a emergência do teu corpo.

É a iminência do teu toque.

É amor.

 
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